A novela "Vale Tudo" vai ganhar uma segunda versão em 2025 para comemorar os 60 anos da Globo e seu elenco aos poucos vai sendo definido. E se nos últimos anos a emissora carioca mostrou beijos entre homens e casais de mulheres, a situação era bem diferente em 1988, quando o folhetim de Gilberto Braga (1945-2021) foi ao ar pela primeira vez.
Um casal que seria formado por duas atrizes acabou sendo alvo da Censura e mudou a trama estrelada por Regina Duarte, Gloria Pires e Beatriz Segall, uma das artistas do elenco original que já nos deixaram. O Purepeople volta com você ao tempo através de reportagens de vários jornais e conta como essa trama acabou ficando de fora de "Vale Tudo".
O casal LGBTQIA+ seria formado por Cristina Prochaska, a Laís, e Lala Deheizelin, a Cecília, a irmã de Marco Aurélio (Reginaldo Faria), ambas proprietárias de uma pousada e juntas há 12 anos. Em 19 de julho daquele ano, o então diretor da Censura Federal vetou por completo as cenas nas quais as empresárias revelariam suas orientações sexuais, contando ainda o preconceito por elas enfrentado.
"As personagens poderiam incorporar o estereótipo homossexual, jamais, porém, sugerir um relacionamento", disse o "Jornal do Brasil". Um dia mais tarde, o extinto jornal fluminense voltou à questão afirmando que as cenas em questão foram reescritas às pressas. Com isso, a sequência da morte de Cecília em acidente de carro também acabaram alteradas.
Na ocasião, Gilberto Braga reagiu ao veto, que teve como justificativa a "proteção" aos adolescentes. "Ele (diretor da Censura Federal) esquece que os jovens estão vendo isso na vida e ele não pode censurar a vida. Fingir que isso não existe numa novela é hipocrisia", disparou.
"Mostrar aos adolescentes que o homossexualismo deve ser encarado com naturalidade é saudável como as outras bandeiras da novela, nitidamente moralista quanto à corrupção, preconceitos e burrice", completou o autor da novela que reuniu alguns atores hoje sumidos da TV.
A cena em questão foi analisada por cinco censores e todos foram unânimes em vetarem a cena de Laís e Cecília. Convém ressaltar que na época, o mesmo número de pessoas analisava todas as demais sequências de "Vale Tudo", história que abordou o alcoolismo e a corrupção.
Por outro lado, os palavrões iam ao ar sem nenhuma reprovação da Censura. "Não permitimos palavras de baixo calão, mas existem palavras que em algumas regiões do país têm sentido de palavrão e em outras não", justificou o diretor Raimundo Mesquita, responsável pelo veto da cena mutilada do casal de mulheres.
Por sua vez, Gilberto Braga rebateu o veto: "Além disso, que autoridade tem um censor para julgar se uma prática é sadia ou não?". Após Laís e Cecília não conseguirem revelar suas orientações sexuais, outros casais formados por personagens do mesmo sexo morreram ou não conseguiram dar o esperado beijo em novelas exibidas posteriormente como "América".